
Me lembrei de todas as vezes em que anualmente eu me despedia, depois de despachar as malas o vô sempre fazia questão de pagar o café e o pão de queijo, você sempre preferiu o suco de laranja. Depois de comer era hora de dizer tchau e então vocês entravam no que pra mim era uma porta misteriosa, sempre quis saber o que tinha atrás daquela parede, que me separava de vocês e me fazia chorar, então eu saia correndo pro terraço e só ia embora depois que meu pai me convencia de que o primeiro avião que eu via decolar levava vocês dentro dele.
Foi assim, a morte levou você dentro dela. O andar do seu chinelinho arrastado, você sentadinha no sofá roendo as unhas, me chamando pra deitar com você no cantinho da cama. Você pegando açúcar escondido enquanto minha mãe estava de costas e fazendo sinal pra eu ficar quieta. Sua risada. Você deitadinha no meu ombro dizendo que estava com medo antes de ir pro hospital. As vezes que eu deixei você cuidar de mim, enquanto eu quem cuidava de você. Tudo é como tinta fresca na minha memória.
Você foi minha vó e minha irmã mais nova. E quando eu fecho meu olho lembro de você parada no corredor dizendo que ia se deitar, as vezes você ficava parada esperando que a gente se levantasse pra te dar um beijo. Você ria quando inventávamos de dar um beijo sanduíche. E eu dizia: Amo muito a senhora, e você respondia : Eu também, amo muito vocês.
Isso me conforta, saber que você morreu sabendo tudo que foi pra mim, a velhinha doce que encantava e apaixonava aonde ia, até sedada no hospital se apaixonaram pela senhora sabia?

Você fez sua ultima viagem, tomamos nosso ultimo café, e eu te dei meu ultimo abraço. E assim como na primeira vez o vô foi na frente e agora vocês dois estão juntos de novo, e embora com muita saudade sei que vocês finalmente chegaram em casa.
http://bruna-and.blogspot.com.br/2009/02/o-verdadeiro-para-sempre.html
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